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História, saúde e poder em Passo Fundo - Instituições hospitalares entre as décadas de 1910 e 1920

Autora: Luísa Grigoletti Dalla Rosa
Págs.: 226
Edição: 1ª
Formato: 14x21 cm
Idioma: Português
Lançamento: 2007
ISBN: 9788589769419

 
 
 
 
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Resumo

 A autora “abriu uma janela” para as décadas de 1910 e 1920 em Passo Fundo, destacando a formação das instituições hospitalares que, não por acaso, colaboraram para a cidade tornar-se referência na área médica, tanto estadual quanto nacional e internacionalmente. A obra revela que na história da criação dos hospitais locais havia muito detalhes. O livro revela acertos e desacertos que uma causa nobre pode envolver; passagens preciosas, como a discussão que se mantém sobre a diferença entre filantropia e caridade. Do lado do Hospital de Caridade, o grupo ligado à maçonaria externava que “a caridade de luvas de pelica é suave e conforta o coração, confrange o espírito, mata as ilusões e enjoa o estômago”, numa crítica à maneira que o catolicismo conduzia a questão. Por seu turno, os católicos do Hospital São Vicente de Paulo reivindicavam que a caridade verdadeira constituía “patrimônio exclusivo do cristianismo, máximo da religião católica.” Por fim na área da história das idéias, estamos diante do registro de uma tarefa bem sucedida.

O Hospital de Caridade foi instalado em Passo Fundo, ainda em 1910, por meio de esforços da sociedade em geral coordenados por poderes locais (maçons, católicos e protestantes), ideologicamente heterogêneos, mas coesos quanto ao desenvolvimento da cidade, que não poderia ser alcançado sem o saneamento da zona urbana, já que a cidade crescia populacionalmente enquanto diminuía em território, tornando péssimas as condições de moradia, trabalho e higiene aos cidadãos passo-fundenses. E isso era um caminho livre para que grassassem enfermidades de toda ordem. Em 1918, foi criado o Hospital São Vicente de Paulo, coordenado exclusivamente por católicos, fruto de um desentendimento ideológico com os maçons, sendo o divisor de águas dessas ideologias o desfile de Corpus Cristi, de 1918, quando o Hospital de Caridade privou-se de participar do evento, já que em seus estatutos pregava a "liberdade religiosa sem melindrar as demais". O processo foi conturbado, tendo sido necessárias várias campanhas, inclusive com ajuda de entidades beneficentes locais, para arrecadação de fundos para construção e ampliação dos prédios dos hospitais. Enquanto algumas epidemias grassavam no Brasil, Passo Fundo debatia-se em promover pesquisas, divulgação de métodos de prevenção e vacinas para doenças (incluindo visitas domiciliares), principalmente contra a terrível tuberculose, conhecida por "mal do século"; contra a gripe espanhola, que matou em torno de 20 milhões de pessoas no mundo, 300 mil no Brasil e 118 em Passo Fundo (nesta cidade em dois meses apenas). Também queria-se combater a varicela, a coqueluche, a febre tifóide entre outras. Como em toda atividade pública há jogos de poder, com a administração dos dois hospitais não foi diferente, sendo os principais representantes das instituições e ideologias conflitantes: Antonino Xavier (laicização, Hospital de Caridade) e Pe. Rafael Iop (clericalização, Hospital São Vicente de Paulo), os quais representavam grupos também distintos politicamente no estado do Rio Grande do Sul: os seguidores de Gaspar Silveira Martins (maragatos, liberais) e os seguidores de Júlio de Castilhos (pica-paus, republicanos). Os hospitais eram, na verdade, parte de uma teia político-ideológica formada também por outras instituições, como, por exemplo, o Clube Pinheiro Machado (Clube Amor à Instrução e depois Academia Passo-Fundense de Letras); o Clube Literário e Recreativo Passo-Fundense; a Loja Maçônica Concórdia III; a Igreja Católica; o Clube Comercial e a Societá Italiana Di Mutuo Socorso Iolanda Margherita Di Savoia (Clube Caixeiral), todos esses servindo de trincheira para disputas insensíveis aos olhos dos cidadãos comuns, mas detalhadamente articuladas pelas elites. De um lado a guerra político-ideológica enchia os jornais de discussões de primeiro mundo na busca pelo progresso, porém de outro lado persistiam velhas formas de organização, denotando a defesa de interesses individuais antes dos coletivos.

Passo Fundo, primavera de 2007

 
 

Apresentação

Prof. dra. Ana Luiza Setti Reckziegel

História, saúde & poder em Passo Fundo, de Luísa Grigoletti Dalla Rosa, fruto de sua dissertação de mestrado realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo, constitui sem dúvida um trabalho de destaque. Seja pelo ineditismo da abordagem, seja pela forma com que a autora tece os fios das fontes históricas, o resultado é estimulante.

De posse de atas, relatórios e imprensa do período a autora debruçou-se sobre o tema da saúde e constatou que, em suas próprias palavras, “uma janela foi aberta” para desvelar o panorama histórico das décadas de 1910 e 1920 em torno de Passo Fundo, destacando a constituição das instituições hospitalares que não por acaso colaboraram para a cidade tornar-se atualmente um centro de referência na área, tanto em âmbito estadual, quanto, certamente, no nacional.

A cidade das primeiras décadas do século XX é pintada com as cores de suas enfermidades, da preocupação com os serviços de higiene pública e com o fornecimento de medicamentos, da morte sem assistência e da chegada da influenza hespanhola, com a conseqüente mobilização de amplos setores sociais para debelar a avassaladora epidemia.

No entanto, indo além de suas fontes, Luísa apresentou um feeling apurado para perceber que na reconstrução da história da criação dos hospitais locais havia muito mais detalhes. A partir daí, aparece a historiadora cuidadosa no exercício da interpretação e, através de uma narrativa agradável, vai revelando os acertos e desacertos que uma causa nobre pode envolver: os conflitos inter-elitários desencadeados nos espaços da saúde .

Identificar as elites locais e mapear suas particularidades no campo das idéias configura relevante contribuição desse trabalho e avança, inclusive, para além dele, dado que os conflitos que se estabelecem no caso da saúde, em particular, reproduzem-se em outras tantas esferas ao longo do século XX.

É essa sociedade, travestida por um lado dos ares da modernização e por isso defensora do crescimento do espaço urbano, das medidas preventivas e saneadoras, e, por outro, ainda arraigada à manutenção dos valores tradicionais, que “constrói palacetes em frente a ruas nas quais o esgoto corre a céu aberto”, como nos conta a autora, que se enfrentará na imposição de trilhas distintas de ação ideológica.

Com propriedade, a autora caracteriza os grupos envolvidos no processo de organização das instituições hospitalares, a igreja católica e a maçonaria, e elege sua problemática principal: a saúde como um espaço de poder e como um campo de disputa de idéias. Indo direto ao ponto, a autora aborda o confronto entre clericalismo e laicismo, os pilares nos quais se assentava a estratégia de consolidação das instituições mencionadas.

Discorrendo de maneira original a respeito dos pressupostos norteadores da ação desses grupos, Luísa nos brinda com passagens preciosas como a discussão que se mantém sobre a diferença entre, por exemplo, filantropia e caridade. Em defesa do Hospital de Caridade, o grupo ligado à maçonaria externava que “a caridade de luvas de pelica é suave e conforta o coração, confrange o espírito, mata as ilusões e enjoa o estômago”, numa crítica à maneira que o catolicismo conduzia a questão. Por seu turno, os católicos do Hospital São Vicente de Paulo reivindicavam que a caridade verdadeira constituía “patrimônio exclusivo do cristianismo, máximo da religião católica.”

Importa ressaltar que no percurso da investigação de um tema adstrito ao universo regional, a autora conduz com competência a articulação entre os diversos níveis que a análise pressupõe, inserindo em contextos mais amplos, quer nacionais ou mesmo internacionais, a problemática em foco.

Por fim, e talvez mais importante, é preciso salientar que na complexa área da história das idéias, cujo volume de produção historiográfica avança de forma dispersa e ainda incipiente no Brasil, o trabalho que apresentamos destaca-se como um vôo corajoso, visto não ser empreitada fácil estabelecer as relações entre a história e as idéias. Como palavras finais, o leitor pode apostar que está diante do registro de uma tarefa bem sucedida.

Passo Fundo, dezembro de 2007

 
 

Sumário

Apresentação   / 11

Introdução   / 17

I. Saúde e doença   / 25

1.1. Breve histórico das concepções médicas e dos
espaços hospitalares / 25
1.2. As enfermidades em Passo Fundo / 32
1.3. As práticas médicas em Passo Fundo / 48
1.4. A criação das instituições hospitalares em
Passo Fundo / 67

II. Passo Fundo: modus vivendis na
virada do século XX   / 97

2.1. O desenvolvimento da cidade, o crescimento
da vila / 99
2.2. A dinâmica do espaço urbano – os focos das
mazelas / 115
2.3. Medidas preventivas e saneadoras –
a modernização  / 137

III. Ideologias orientando projetos
hospitalares   / 155

3.1. Laicismo versus clericalismo / 155
3.2. Maçonaria e Igreja Católica no processo de
constituição das instituições hospitalares / 164
3.3. Polêmica entre as instituições hospitalares / 178
3.4. A elite mantenedora dos projetos nas instituições
hospitalares / 195

Referências / 225
Locais de pesquisa  / 229

Fontes / 228
 

 

   
   
      


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