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Oché y Sefé Tiarayú - Romance

Autor: Odilon Garcez Ayres
Págs.: 192
Edição: 1ª
Formato: 14x21 cm
Idioma: Português
Lançamento: 2006
ISBN: 8589769135

Livro em papel:    
r$ 26,50  

   
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Texto de contracapa

 Torna-se insaciante uma única leitura deste virtuoso romance, tal é a laboriosidade da trama que serpenteia a obra.

A história ocorre no período das guerras, tratados e sangueiras que fizeram parte da formação dos países da pampa, Uruguai, Argentina, Paraguai e Sul do Brasil, no entanto não segue uma simetria acadêmica enfadante quando ficciona as emoções vividas por Sefé e Oché durante os anos de refregas entre Portugual e Espanha no século XVIII.

Enquanto vive em constante clima de guerra na companhia do seu igual, Sefé ainda tem que pelejar com o coração para (re)conquistar o seu amor verdadeiro. Essas e outras agruras permeiam os dias destes guaranis que não sabem ficar parados vendo sua terra ser demarcada, muito menos não reagir frente a um amor impossível.
Mas como deter os exércitos espanhóis e portugueses?

 
 

Texto de orelha

 Além da formidável junção de fatos e eventos, da luta encarniçada pelo amor verdadeiro que Sefé trava até o fim da vida, a obra surpreende por explorar o imaginário indígena do século XVIII, não apenas falando das guerras, mas as atividades do dia-a-dia, da alimentação, das incertezas, esperanças, alegrias e amores desses povos, tudo isso versado num rebuscado linguajar que enriquece a ficção e dá novas cores à chama missioneira, enaltece as Reduções Jesuíticas, valoriza e heroíza a estirpe guarani.

 
 

Primeiro capítulo

 Prisioneiros de Santa Tereza (primeiro capítulo)

Era meados de março de 1638, a bandeira de Andrés Fernandes Oliveira resumia-se a poucos homens brancos, vários mamelucos, franceses, holandeses, judeus e espanhóis, alguns tamoios e muitos tupis. Desde que tinham saído da Coxilha do Albardão, descendo pelas serranias do mar, tudo transcorria na mais absoluta calmaria. O tempo seco e ensolarado vinha ajudando os paulistas desde a empreitada em que se aventuraram alguns meses antes na futura Província Del’Rei.

Quase todos os dias, a mesma rotina: levantar com uma nesga de sono e percorrer o acampamento com um olhar em círculo, os guaipecas ao lado do borralho e os companheiros estendidos nas redes de tucum, com o bacamarte e o fala-verdade à mão. Dormiam com bota e tudo, acostumados com aquela lida.

Na noite passada um capincho servira de jantar, assado em postas grandes, acompanhado de muita guaripola, paçoca e café.

Os outros da comitiva estavam esparramados ao relento, a frescura das paragens era benigna aos temíveis e incautos predadores.

Os prisioneiros, ligados pelas mãos e acorrentados pelos pés com gargalhas, aclimatados com o frio do sul do continente, dormiam mal na canseira de léguas e léguas já percorridas, atazanados pelos mosquitos, vespas, muriçocas e um sem-fim de insetos da grande mata que costeava o mar, sem contar as pisaduras nos braços e nas canelas pelo constante roçar das tiras de couro e dos cadeados ferro com ferro.

Da pouca ração que recebiam, comiam mais couro, nervos e pelancas do que carne, as mãos ensebadas percorriam os ferimentos.

O mameluco tambeiro foi o primeiro a levantar-se, atiçou o fogo, pegou a cambona e desceu ao riacho tirar a ressaca. Quando voltou para preparar o café, o dia já vinha clareando, muitos já perambulavam pelo acampamento, arrumando as catraias, basicamente se resumiam em redes, embornais, facões, espingardas, vasilhames e o pessuelo, a caixa de couro do chefe. Cada um servia-se da carne que restara e do pão seco feito há dias numa parada na aldeia carijó despovoada.

Todos guardavam na mente esse lugar de nome antigo, Barra do Camacho, onde não só os Fernandes, mas os Dias e os Raposos tinham levado de nossos irmãos caris mais do que se poderia contar duma noite estrelada. Naquelas paragens de Embitiba (Imbituba) o bisavô do meu avô também ouviu um guarani contar sobre dom Matias Albuquerque, um bravo carijó de nome Aberaba que se tornara irmão dos portugueses.
Os burros de carga, poucos, mas as mulas iam com as bruacas carregadas de traias, tinham nos surrões de mantimentos o charque, feijão, milho, batatas, canjica e paçoca.

Tio Pedro Velho, o tambeiro, percorreu, com os olhos acostumados, os prisioneiros valiosos que sabiam ler e escrever que seriam vendidos em Piratininga.

Andrés Fernandes, o cristão novo, tocou a buzina e os guaranis se levantaram com a boca seca e o estômago churingado, as mitãnchu’i (crianças pequenas) choravam baixinho, as cuñá (mulheres) resmungavam e os avá (homens) feitos quietos, tristes, com o olhar distante, faziam por donde para não levar um talagaço de chicote dos mamelucos.

Os tupis acompanhavam tudo de soslaio, mas partiram na frente de Andrés, seus irmãos, do pai e do filho padre que iam a cavalo. Os tupis Jurupari, Irapuã e Tatanguar rasgavam selvas, matas, rios e pântanos como se fossem ali pertinho pescar. Suas bordunas já tinham servido outras bandeiras, com esta seria a terceira, já estavam bem aculturados e viviam com suas mulheres nas saias do padre Anchieta, por isso, eram tidos em alta conta, ao todo eram mais de cinco mãos.

Cuarahîhesapé levantou e puxou levemente o sovéu que os ligava, todos se moviam ao som sutil de sua voz de comando, jovens, velhos, homens, mulheres e crianças. O tuvichá, não fosse o brilho diferente que emanava do seu rosto, pouco se diferenciava da maioria dos guaranis, agora ligados pela tragédia, com seus olhos amendoados que faiscavam, às vezes cordiais, às vezes sérios, outras raivosos, contidos pelo ferro, porque se não fosse este, as suas macanás (tacapes) fariam estragos horrendos naqueles mentirosos e traiçoeiros que se escudavam num padre com cruz de uma travessa só.

Quando amanheceu e o sol se aprumou no horizonte, a bandeira já tinha percorrido uma légua dentro da mata. Esperavam que lá pelo entardecer, se nada de mal lhes acontecesse, chegariam a Laguna, onde rilhariam as areias pertinho do mar, onde poderiam se refrescar e cicatrizar as feridas dos espinhos, bernes e carrapatos.

Homens e animais sentiam a aragem do mar grande entrando pelas narinas, era o aroma purificador da água salgada trazido pelo vento leste, porém o barulho das patas dos animais, dos facões abrindo picada, dos mamelucos atiçando os cargueiros e dos cativos arrastando correntes era sinistro e nada prazeroso, já não se podia ouvir o canto dos inumeráveis pássaros, apenas alguns bandos de periquitos e baitacas tentavam abafar a cacofonia enquanto a araponga martelava os ouvidos dos cativos:— Muerte! Muerte! Muerte!

 
 

 

   
   
      


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