Contracapa
Esta obra vem do mestrado em Envelhecimento Humano da Uiversidade de Passo Fundo, com aportes nacionais e alguns internacionais, para contribuir com o diálogo entre as ciências da vida, da saúde, as humanas, sociais aplicadas, exatas, dentre outras.
Temas como bioética, linguagem, doenças respiratórias, diabetes, risco de quedas, violência, jogos de câmbio, nutrição, era digital, psoríase e aparato vocal compõem, portanto, o paradigma integrador pretendido pela transdisciplinaridade, ou seja, como explicam os organizadores, buscam ‘‘constituir relações entre as diferentes áreas do conhecimento, com diferentes metodologias e epistemologias e a realidade complexa, múltipla e evolutiva, marcada pelas categorias de ordem e caos, organização e desorganização, avanço e retrocesso, complexidade, emergência’’.
As realidades complexas em foco são a do ambiente saudável e, por consequência, a do envelhecimento bem-sucedido, do bem-estar ‘‘pautado no reconhecimento, no respeito e na dignidade de ser e existir das pessoas longevas’’.
O caminho supõe múltiplas, inter e retro conexões em benefício da humanidade.
Abas
''Saúde é resiliência ou capacidade de reação, dependendo essencialmente do ambiente coletivo que constitui o espaço geográfico...'' (p.20)
''As novas invenções e tecnologias comunicativas diminuem distâncias e favorecem o diálogo, por outro lado a realização pessoal e profissional, o reconhecimento como pessoa portadora de valor intrínseco, de fim em si mesma, de dignidade, está cada vez mais distante.'' (p.39)
''O cuidado encontra-se na raiz profunda da condição humana, porque possui um caráter ontológico...'' (p.50)
''As quedas apresentam um importante agravo na saúde dos idosos e estão entre os principais problemas de saúde que afetam as pessoas depois dos 60 anos...'' (p.70)
''47% das mulheres vitimizadas provêm de famílias com histórico de violência. São suas próprias mães, tias e irmãs que compõem esse cenário...'' (p.80)
''Jogo de câmbio oportuniza ao praticante conhecer distintas culturas, interagir com pessoas diferentes de seu convívio diário, administrar novas situações e novos desafios.'' (p. 101)
''A violência psicológica é de difícil identificação, porém é tão significativa quanto às demais, para aquele que vivência. Seu enfrentamento torna-se complexo, uma vez que sequer o próprio idoso se dá conta que está sendo vítima desse tipo de abuso.'' (p.114)
''A redução do apetite é comum no idoso. Muitas dessas alterações estão relacionadas com modificações de hormônios periféricos incluindo a colecistoquinina, a leptina, a grelina, insulina, e o péptido...'' (p.122)
''O perigo está no impacto na vida do idoso, quando busca a inclusão digital. Os resultados podem interferir diretamente na sua autoestima...'' (p.137)
''O diagnóstico da psoríase é eminentemente clínico...'' (p.148)
''Resultados de pesquisas mostram uma prevalência de doenças da tireoide em mulheres, no Brasil... No entanto, a prevalência em homens aqui é maior do que os resultados encontrados no exterior.'' (p.172)
''Envelhecimento vocal tem relação com aspectos fisiológicos relacionados à atuação dos hormônios sexuais.'' (p.183)
Apresentação:
Multidimensionalidades
da realidade e das ciências e
o envelhecimento humano
Nadir Antonio Pichler
Lia Mara Wibelinger
Telma Elita Bertolin
O objetivo do livro Bem-estar nas multidimensionalidades do envelhecimento humano é descrever, analisar e difundir algumas abordagens sobre o processo do envelhecer na perspectiva multidimensional, centradas no bem-estar, isto é, no propósito de contribuir para a discussão e o desenvolvimento do envelhecimento saudável, pautado no reconhecimento, no respeito e na dignidade de ser e existir das pessoas longevas.
Os capítulos são produtos de estudos desenvolvidos por alunos e professores do mestrado em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil, juntamente com colaboradores nacionais e internacionais que pesquisam as multidimensionalidades do processo do envelhecimento humano.
Por isso, esta Apresentação procura explorar alguns caminhos históricos percorridos pelo desenvolvimento das ciências na Modernidade, a partir de 1500, situando especificamente as suas múltiplas interpretações e aplicações, contextualizando e interconectando-as às multidimensionalidades do envelhecer humano.
Nesse sentido, quando se busca explicar, interpretar e compreender qualquer fenômeno, seja ele de ordem natural, humana ou divina, sempre estaremos abordando-o de acordo com os paradigmas dos conhecimentos, técnicas e valores em voga, por sua vez, construídos e reconstruídos historicamente. São os paradigmas de cada época histórica que fornecem o cabedal para justificar e analisar epistemologicamente as multidimensionalidades das pesquisas da realidade ou do ser.
Assim, se, de um lado, as ciências milenares, como a geometria, a matemática, a filosofia, a teologia, a cosmologia, as artes etc., ainda têm dificuldades para apreender e explicar seus respectivos objetos de estudos – porque o saber é sempre mutável, evolutivo, dinâmico e probabilístico –, de outro, o que dizer então de áreas emergentes, como o saber em torno do processo do envelhecimento humano?
Parece que as pesquisas concernentes ao envelhecer das pessoas, devido à sua complexidade, precisam ser de natureza inter, multi e transdisciplinar, realidade ainda em contínuo processo de construção. Além do mais, as academias e os centros de estudos sobre o assunto ainda não conseguiram estabelecer um estatuto epistemológico e um conjunto de ações práticas nucleares e técnicas dessa área multidimensional. Sobre essas dificuldades, três, dentre várias, parecem plausíveis: a estruturação do paradigma simplificador na modernidade por meio do método científico; consequentemente a fragmentação das ciências na modernidade e a ausência de diálogo para estabelecer uma abordagem inter, multi e transdisciplinar efetiva, principalmente pelas ciências da vida, da saúde, das humanas e sociais aplicadas.
Paradigma simplificador para
compreender o mundo
O gradativo desenvolvimento e a aplicação do método científico, na modernidade, apresentaram-se como única alternativa válida e correta de abordagem da realidade ou do ser e de produção de conhecimento. Essa visão de mundo está estruturada em torno do paradigma simplificador, instrumental e mecanicista gestado, ainda na idade média, por Guilherme de Ockham e Dunz Scottus, estritamente ancorado no mundo da experiência e no primado do individual. Essa nova concepção de ciência é muito bem aceita e desenvolvida, inicialmente, pelas pesquisas de Kepler, Copérnico, Galileu e consagradas por Descartes e Newton. Esse paradigma científico e filosófico buscava e ainda busca encontrar um princípio ordenador subjacente à desordem no mudo físico, biológico e humano. A desordem, o subjetivo, os estudos das humanidades, as abordagens qualitativas, o que não é claro e distinto, passível de evidência e certeza, não serve para ser considerado parâmetro de ciência.
Assim, para Descartes, na obra Discurso do método, II, existem algumas regras claras e distintas que devem ser observadas de forma dedutiva:
1ª) Intuição: emitir somente juízos ou ideias claras e distintas, sem possibilidade de dúvidas;
2ª) Análise: dividir o objeto de pesquisa em tantas e quantas partes menores possíveis;
3ª) Síntese: reunir e raciocinar em ordem, partindo do simples ao complexo, em forma de degraus;
4ª) Enumeração: fazer sempre enumerações tão complexas e revisões tão gerais que se tenha a segurança de não se ter omitido nada.
Além do mais, Descartes foi um dos fundadores dos pilares da ciência moderna, conhecida como ciência cartesiana, que separou substancialmente a realidade em coisa (res extensa) e espírito ou pensamento (res cogitas), ou seja, ciência e filosofia. Essa visão de mundo e de ciência irá influenciar de modo decisivo a visão mecanicista, simplificadora e reducionista desenvolvida por Isaac Newton.
Portanto, o paradigma simplificador da razão instrumental possui seus fundamentos na fragmentação e na disjunção da realidade, além da separação entre o sujeito e o objeto no processo do conhecimento. Só é passível de ser ciência aquilo que é claro e distinto, gerador de ordem, aquilo que pode ser simplificado e reduzido às leis simples e mecânicas.
Divisão das ciências na modernidade
Uma das grandes conquistas da modernidade foi a divisão e a fragmentação das ciências, principalmente pela sua desvinculação do tronco comum metafísico, de caráter filosófico e teológico, oriundo das civilizações grega e romana e da tradição da cristandade medieval. Nesse sentido, na visão de Renè Descartes, como vimos acima, o todo começa ser dividido para melhor ser conhecido. Homem e universo se desintegram nessa forma de abordagem científica. A natureza e o próprio homem, agora, são objetos de pesquisa, não mais no sentido qualitativo, meditativo e contemplativo, de acordo com a visão de mundo grego e medieval, mas como instrumentos privilegiados em função do quantitativo, do produtivo, do capital e do lucro. Agora, a razão deixa de ser meditativa, participante, integrante, tornando-se instrumental, interventiva, dominadora e utilitarista. Agora, com modernidade e ainda muito enaltecido nos tempos atuais, tudo está em função do valor, da troca. Tudo, toda a realidade, seja ela da esfera material seja da simbólica, cultural, inclusive a dimensão religiosa, transcendental do homem, possui valor, sendo passível de troca.
Eis algumas razões que dificultam a busca do diálogo entre as ciências, em torno de abordagens multidimensionais da realidade, como o bem-estar nas multidimensionalidades do envelhecimento humano. A mesma dificuldade pode ser estendida a todas as outras atividades humanas, como educação, saúde, segurança pública, combate a violência etc.
Ausência de diálogo entre as ciências
Como vimos acima, se a busca pela compreensão da realidade caracteriza-se pela fragmentação e pela divisão das ciências, naturalmente há ausência de diálogo para estabelecer múltiplas conexões entre elas. Eis um indicador reflexivo que aponta o distanciamento entre as ciências da vida e da saúde, as humanas, sociais aplicadas, exatas, dentre outras envolvidas diretamente na construção de uma proposta interdisciplinar de compreensão múltipla do processo do envelhecimento humano.
Convém destacar que o avanço da visão objetiva, pragmática e instrumental da ciência moderna, subdividida em disciplinas e áreas específicas, gerou e continua gerando muitas comodidades eficazes para a o homem atual, como os meios de transporte e de comunicação, computadores, sondas espaciais, conquistas na medicina e áreas da saúde etc. Todas estas e outras conquistas geraram bem-estar à humanidade, inclusive à longevidade.
Por isso, a transdisciplinaridade, como um novo paradigma integrador, pelo diálogo das ciências, pode ser o caminho eficaz. Ela é capaz de fornecer parâmetros metodológicos para constituir relações entre as diferentes áreas do conhecimento, com diferentes metodologias e epistemologias e a realidade complexa, múltipla e evolutiva, marcada pelas categorias de ordem e caos, organização e desorganização, avanço e retrocesso, complexidade, emergência.
Dessa forma, quanto mais as ciências apreendem, compreendem e procuram explicar a realidade do ser da coisa, isto é, a realidade complexa, dinâmica e evolutiva, com suas múltiplas, inter e retro conexões, de mais benefícios a humanidade poderá usufruir. Procurar reunir, pelo diálogo, as múltiplas dimensões do saber, principalmente em torno do bem-estar nas multidimensionalidades do envelhecimento humano, é um longo caminho para ser constituído ainda pelos pesquisadores dessa área.
Este livro busca estabelecer algumas conexões e sinalizações concernentes ao processo de envelhecer referentes ao bem-estar. Assim, os capítulos, por mais que diversos, giram em torno desse núcleo.
Desejamos uma excelente leitura!
Os organizadores.
Sumário
Apresentação: Multidimensionalidades da realidade e das ciências e o envelhecimento humano
Nadir Antonio Pichler, Lia Mara Wibelinger, Telma Elita Bertolin / 7
Envelhecimento bem-sucedido e ambiente saudável: reflexões bioéticas
José Roque Junges, Cátia Pereira, Gabriela Kronbauer / 15
Diálogo e saúde em Gadamer
Edimarcio Testa, Nadir Antonio Pichler, Sérgio Ricardo Gacki / 29
Doenças respiratórias crônicas nos dias atuais e o cuidado com a pessoa idosa
Talia Castilhos de Oliveira, Nadir Antônio Pichler, Sílvia Regina Piesanti / 45
Educação em saúde para idosos com diabetes mellitus tipo 2 da rede pública de saúde
Luma Zanatta de Oliveira, Alisson Padilha de Lima, Camila Pereira Leguisamo / 55
A vulnerabilidade de idosos diabéticos, quanto ao risco de quedas
Suzane Stella Bavaresco, Tayse Perin Della Pasqua, Camila Pereira Leguisamo / 65
A violência contra a mulher nas relações conjugais: Um infortúnio que não envelhece
Silvana Alba Scortegagna, Suraia Estacia Ambrós, Ana Carolina Bertoletti De Marchi, Camila Pereira Leguisamo / 77
O jogo de câmbio e a socialização no envelhecimento
Roseli Bess, Ana Carolina Bertoletti De Marchi, Eliane Lucia Colussi / 93
Registros de violência contra idosos no Ministério Público Estadual de Passo Fundo
Katiane Bones Camargo, Astor Antônio Diehl, Silvana Alba Scortegagna / 107
Nutrição e aspectos sociais no envelhecimento
Luciana Marcon Barbosa, Cláudia Maria Czernaik, Eliane Lucia Colussi / 119
Pessoa idosa na era digital: a vida feita de vidro
Mônica Luísa Kieling, Melina Rech Spanho, Henrique Gil, Adriano Pasqualotti / 127
Psoríase: O que precisamos saber?
Jaqueline Doring Rodrigues, Lara Caroline Tusset, Ana Cristina Dorneles / 143
Quedas em pessoas idosas: Refletindo a promoção da saúde
Lili Wilke Klaesene, Camila Tomicki, Marilene Rodrigues Portella / 155
Caracterização tireoidiana no processo de envelhecimento
Letícia Betto / 165
Processo de envelhecimento no aparato vocal
Analice Calegari Lusa, Lia Mara Wibelinger / 175
Sobre os autores / 189
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