Contracapa
Esta obra reúne oito capítulos cujos estudos envolvem a língua e a linguagem na perspectiva enunciativa.
As teorias da enunciação têm sido objeto de estudo de inúmeros pesquisadores, especialmente nas duas últimas décadas no Brasil, como é possível perceber pelo grande volume de publicações. Inegável é a contribuição científica desses estudos, cujo campo é vasto e produtivo. A inter-relação desses estudos com o ensino, entretanto, é recente, o que justifica o mérito do fortalecimento dessa interlocução. Assim configura-se essa obra que pretende traçar algumas reflexões teóricas, outras, talvez, metodológicas para pensar sobre a relação entre o ensino de língua e a enunciação.
Apresentação
Patrícia da Silva Valério,
Marlete Sandra Diedrich,
Elisane Regina Cayser
(Organizadoras)
As teorias da enunciação têm sido objeto de estudo de inúmeros pesquisadores, especialmente nas duas últimas décadas no Brasil, como é possível perceber pelo grande volume de publicações. Inegável é a contribuição científica desses estudos, cujo campo é vasto e produtivo. A inter-relação desses estudos com o ensino, entretanto, é recente, o que justifica o mérito do fortalecimento dessa interlocução. Assim configura-se essa obra que pretende traçar algumas reflexões teóricas, outras, talvez, metodológicas para pensar sobre a relação entre o ensino de língua e a enunciação.
A obra que apresentamos reúne oito capítulos de pesquisadores cujos estudos envolvem a língua e a linguagem na perspectiva enunciativa. Desse modo, no primeiro, Pensando o ensino de língua a partir da enunciação, Marlete Diedrich, Patrícia Valério e Elisane Cayser refletem sobre o ensino de língua, a partir dos princípios enunciativos propostos por Émile Benveniste. As autoras apresentam esses princípios, inicialmente percorrendo alguns textos do autor para, em seguida, a partir desses princípios, apresentarem a leitura do que de fato consideram ser uma abordagem de ensino de língua na perspectiva enunciativa. Buscam explicitar como o linguista propõe que se analise a enunciação para concluir que, quando se assume o ponto de vista enunciativo no ensino de língua, deixa-se o terreno das regularidades postas em manuais de gramática para se chegar à singularidade de cada ato enunciativo.
Em Reflexões acerca da semântica do texto, Daiane Neumann retoma algumas considerações acerca da semântica do texto, a partir da discussão sobre sentido proposta por Ferdinand de Saussure, no Curso de linguística geral, Émile Benveniste, em Problemas de linguística geral I e II, e de Henri Meschonnic, em Critique du rythme. Para tanto, resgata reflexões sobre o sentido propostas por Saussure no CLG, principalmente no que concerne ao arbitrário do signo e à teoria do valor, discute sobre o desenvolvimento dado por Benveniste a esta reflexão, em especial considerando a questão da subjetividade na linguagem, a noção de discurso e a relação forma e sentido, para, então, apresentar algumas questões desenvolvidas por Meschonnic em Critique du rythme, a partir dos trabalhos dos dois grandes mestres. Ao final do trabalho, faz um deslocamento dessas discussões apresentadas para pensar sobre o tratamento semântico que pode ser dado ao texto em sala de aula, atentando, também, para algumas particularidades que este olhar pode trazer para discutir o objeto texto de modo a enriquecer a análise e a reflexão do assunto.
Aline Juchen, em Enunciação e ensino: um caso de amor e de língua, busca refletir sobre o processo de escrita e de reescrita no contexto de sala de aula. O texto deriva de parte de sua dissertação de mestrado que teve como motivação as experiências da autora como docente no Programa de Apoio à Graduação (PAG) – Projeto de Língua Portuguesa: Leitura e Produção Textual. Para atingir seu propósito, a autora recorre à Teoria da Enunciação, de Émile Benveniste, porque nessa teoria se encontra uma concepção de linguagem essencialmente ligada à (inter)subjetividade, o que significa considerar a escrita e a reescrita como atos de enunciação. O texto coloca em evidência o trabalho de ensino-aprendizagem de escrita e reescrita, bem como de leitura e análise de textos em sala de aula, levando sempre em conta o espaço de singularidade do sujeito na língua.
Em A Teoria enunciativa de Émile Benveniste e o estudo do texto: itinerários investigativos, Carolina Knack retoma parte da produção teórica de Émile Benveniste, especialmente artigos reunidos em Problemas de linguística geral I e Problemas de linguística geral II, para buscar compreender o modo como a teoria enunciativa benvenistiana foi lida pela linguística brasileira. O artigo resulta de um trabalho maior, a dissertação de mestrado da autora, no qual ela aprofunda o estudo. Mesmo assim, dá uma contribuição teórica densa na medida em que transita entre vários textos, tais como PCN's e Referenciais Curriculares e mesmo entre teorias de vários linguistas brasileiros – como Ingedore Koch, José Luiz Fiorin, Diana Luz Pessoa de Barros, Eni Orlandi, a fim de identificar o modo como a teoria benvenistiana foi lida pela linguística brasileira e como se instituiu o diálogo dessa teoria com a área dos estudos do texto.
Em Linguística da Enunciação e Ensino: categorias analíticas para a avaliação de relatórios de estágio supervisionado em Língua Portuguesa, Silvana Silva propõe-se a elaborar categorias analíticas para a avaliação de relatórios de estágio supervisionado em língua portuguesa. Para tanto, vale-se do aporte teórico da Linguística da Enunciação (sistematizado em Flores e Teixeira, 2005; Flores et al., 2009) e procura elencar as categorias enunciativas que permitem demonstrar que o aluno se apropria, mais ou menos plenamente, do seu próprio planejamento durante a prática docente. A pesquisadora faz, também, a análise de um excerto da Apresentação de um relatório de estágio supervisionado em língua portuguesa, orientado por ela no segundo semestre de 2012 na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), cidade de Bagé, RS. Observa que a Apresentação prima por uma progressiva ampliação do interlocutor, "tu-alunos" para "vocês-alunos de EJA", revelando então uma Apresentação bem-sucedida do Projeto de Ensino do Estágio. Chega à conclusão de que uma das categorias analíticas relevantes para a análise de relatórios de estágio é a consideração do "tu-aluno" no texto do relatório, seja em sua "ampliação de participação" seja em sua "diminuição de participação".
Claudia Stumpf Toldo e Aline Wieczikovski Rocha, em A semantização do discurso metafórico: um olhar enunciativo, ancoram sua pesquisa nos estudos enunciativos de Émile Benveniste, em especial nos reunidos em Problemas de linguística geral I e II e publicados entre 1964 e 1970. Partindo de discussões sobre níveis de análise linguística, forma e sentido, semiótico e semântico, as autoras apresentam um diálogo teórico do pensamento benvenistiano acerca da linguagem que julgam possível para analisar o fenômeno da metáfora em textos publicitários.
Práticas de letramento, ensino de línguas e multimodalidade na era digital, de Elisa Stumpf e Aline Vanin, busca tematizar como o ensino de língua portuguesa (ou mesmo o ensino do português como língua adicional) pode contribuir para a fazer o aluno se ver como sujeito nas diversas possibilidades de interação social que se dão por meio da linguagem escrita. O texto discute sobre como o mundo digital influencia as práticas de leitura e de escrita, procurando mostrar como as diferentes tecnologias podem ser utilizadas a favor do trabalho pedagógico com a língua em sala de aula, em uma perspectiva que valoriza a interação como princípio orientador das práticas de linguagem.
Por fim, em Alguns conceitos-chave da semiótica do texto e sua funcionalidade no ensino da leitura na escola, as autoras Elisane Cayser, Marlete Diedrich e Patrícia Valério refletem sobre o processo de construção do sentido dos textos na sala de aula à luz da Teoria Semiótica do Texto. Para isso, retomam pressupostos teóricos da semiótica greimasiana e procedem à análise de um texto, a fim de demonstrar a pertinência dessa teoria para a percepção dos sentidos criados no/pelo texto.
Os textos que integram essa obra não têm a pretensão de apresentar algo inédito, portanto, se as reflexões propostas puderem dialogar com os leitores, aproximando a Linguística da Enunciação do ensino da língua materna nas salas de aula de língua portuguesa, os estudos estarão justificados.
Sumário
Apresentação / 7
I. Pensando o ensino de língua a partir da
enunciação
Elisane Regina Cayser, Marlete Sandra Diedrich, Patrícia da Silva Valério / 15
II. Reflexões acerca da semântica do texto
Daiane Neumann / 31
III. Enunciação e ensino: um caso de amor e
de língua
Aline Juchem / 53
IV. A teoria enunciativa de Émile Benveniste e
o estudo do texto: itinerários investigativos
Carolina Knack / 87
V. Linguística da enunciação e ensino: categorias
analíticas para a avaliação de relatórios de
estágio supervisionado em língua portuguesa
Silvana Silva / 121
VI. A semantização do discurso metafórico:
um olhar enunciativo
Aline Wieczikovski Rocha, Claudia Stumpf Toldo / 145
VII. Práticas de letramento, ensino de línguas
e multimodalidade na era digital
Aline Aver Vanin, Elisa Marchioro Stumpf / 171
VIII. Alguns conceitos-chave da semiótica do texto: funcionalidade no ensino da leitura na escola
Elisane Regina Cayser, Marlete Sandra Diedrich, Patrícia da Silva Valério / 195
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