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75 anos da Academia Passo-Fundense de Letras 1938-2013: História, patronos, acadêmicos e ações em prol da cultura

Organizadores: Osvandré Lech e Marilise Brockstedt Lech
Autores: Agostinho Both, Alberto Antonio Rebonatto, Alori Batista Castilhos, Antonio Augusto Meirelles Duarte, Carlos Alceu Machado, Carlos Antonio Madalosso, Craci Terezinha Ortiz Dinarte, Daniel Viuniski, Dilse Piccin Corteze, Diógenes Luis Basegio, Elisabeth Souza Ferreira, Elmar Luiz Floss, Francisco Mello Garcia, Gilberto R. Cunha, Helena Rotta de Camargo, Hugo Roberto Kurtz Lisboa, Irineu Gehlen, Jabs Paim Bandeira, José Ernani de Almeida, Júlio Perez, Luiz Juarez Nogueira de Azevedo, Marco Antonio Damian, Marilise Brockstedt Lech, Mauro José Gaglietti, Marisa Potiens Zilio, Odilon Garcez Ayres, Osvandré Lech, Paulo Domingos da Silva Monteiro, Pedro Ari Veríssimo da Fonseca, Ricardo José Stolfo, Rogério Moraes Sikora, Romeu Gehlen, Santina Rodrigues Dal Paz, Santo Claudino Verzeleti, Selma Gandini Costamilan, Sueli Frosi, Welci Nascimento, Getulio Zauza
Págs.: 328
Edição: 1ª
Formato: 21x21 cm
Idioma: Português
Lançamento: 2013
ISBN: 9788582000205

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Contracapa

Charles Pimentel
editor

75 anos é sinônimo de sapiência... e se está falando aqui da Academia Passo-Fundense de Letras, inspiradora de efusivas felicitações por seu Jubileu de Diamante, vindas do alto governo, da imprensa, de empreendedores culturais, da Academia Brasileira de Letras e de gênios literários, como Paulo Coelho, que, em breve nota no início deste livro, consegue explicar um escritor por dentro e por fora.

Academia "é convívio", como diz aqui Arnaldo Niskier, "um lugar para se desenvolver o gosto pela literatura e zelar pela valorização da língua portuguesa, hoje falada no mundo por cerca de 240 milhões de pessoas". É, ainda, como diz Osvandré Lech, "um lugar para líderes dedicarem voluntariamente tempo e ideais para o desenvolvimento da cultura, educação e o entendimento da história que culminem em inserção social... outrossim em riquíssimo ambiente para debate."

Essas premissas encontram silogismo logo na ''Linha do tempo'', 1938-2013, que revela as muitas ações que, originadas na APLetras, tiveram implicações diretas no perfil atual da cidade (como a criação da Biblioteca Municipal, a fundação do CTG Lalau Miranda, a estruturação da Roselândia e as primeiras discussões de criação da Universi-dade de Passo Fundo. É igualmente surpreendente conhecer a pujante produção literária dos atuais acadêmicos a partir de um quadro recente de suas ativas e constantes participações em mídias escritas e audiovisuais.

E como a história ensina mais que qualquer outro tempo, outra interessantíssima parte do livro traz as biografias de patronos e acadêmicos, onde transparecem mais que realizações, vidas... corriqueiras, apaixonadas, suntuosas ou modestas, mas sempre construídas em torno de um ideal, de uma instrução (Prestes Guimarães, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Assis Chateaubriand, entre outros); ...contadas desde o nascimento e primeiras conquistas até as mudanças mais significativas de rumo existencial, como o fizeram Erico Verissimo (que de bancário foi ser escritor) e Alcides Maya (ao trocar a advocacia por jornalismo), entre vários outros fatos de escritores, alguns considerados imortais por sua viva literatura.

A seção ''APLetras através dos tempos'', compilada por Marilise Brockstedt Lech, expõe em mais de 180 fotos: documentos célebres, registros de encontros, palestras, concursos literários, feiras e publicações desta instituição social que tanto promoveu e conquistou em visibilidade e ações em prol da cultura. Tenha uma ótima leitura!

Abas

Uma expressão evidente no discurso internacional da Unesco é a ''cooperação intelectual'', que busca soluções para os problemas que desafiam nossa sociedade, nas áreas de educação, ciências naturais, ciências humanas e sociais, cultura, comunicação e informação.

A palavra ''cooperar'' também aparece nas diretivas da Academia Passo-Fundense de Letras, mais especificamente, no seu Art. 6º, encabeçando uma série de itens de seu novo Estatuto Social em prol da cultura. Não é por acaso que essa palavra, segundo a Unesco, ''em toda sua diversidade, é fator de desenvolvimento e coexistência em todo o mundo''.

Esta feliz coincidência é a prova do acertado caminho que a APLetras toma rumo ao desenvolvimento dos povos, pois em âmbito regional segue os preceitos de importante instituição de abrangência internacional. Portanto, não importam as dimensões envolvidas, afinal, quem lê, mesmo que isolado numa aldeia, vive momentos universais. Não é mesmo?

''Ler é alimentar a alma'', muitos dizem, mas os benefícios podem ser até mais palpáveis, pois, como já é comprovado, investir em educação incrementa a economia. Isso vai de acordo com a realidade de país para país, é claro, de forma que, dependendo do nível de escolaridade de cada um, tem-se mais ou menos crescimento. Logo, ler também é materializar necessidades.

De 1938 a 2013, a Academia Passo-Fundense de Letras vem investindo na cultura. São 75 anos de existência e de contribuição indireta com o desenvolvimento.

A história resgatada neste livro mostra, num registro plano e organizado, uma instituição que sentiu a estreiteza dos tempos da ditadura; que acolheu pessoas de renome estadual e nacional; que teve seu prédio tombado como Patrimônio Histórico do Município e que tem hoje um compromisso renovado com a sociedade: seu Estatuto Social, firmado em registro civil (Confira!).

A APLetras é um lugar em que a diversidade de ideias, as profissões, crenças, posições políticas e os pontos de vista se encontram para formar um riquíssimo ambiente para o debate pelo bem-estar intelectual da comunidade.

Isso se percebe já nas biografias dos acadêmicos e de seus patronos que ocupam a maior parte das páginas desta obra e permitem ainda outras leituras, como, por exemplo, conhecer o lado humano dos escritores e de seus feitos na vida real, além de muitos comentários sobre suas obras.

Parabéns à APLetras, pelo singular aniversário e pelo plural compromisso com as literaturas! (CP)

As academias de letras

Luiz Antonio de Assis Brasil
Escritor

Sempre que uma sociedade atinge certo grau de condensação cultural, este é o momento em que surgem as academias de letras. Justifico-as. As academias representam a summa literária média de uma determinada região, de um determinado país. Nela estão aquelas pessoas que, a juízo público e social, significam algo de relevante; não necessariamente inovador-embora, na maioria das vezes, o sejam. O modelo acadêmico universal, sabe-se, é a Académie Française, criada pelo Cardeal-Duque de Richelieu no século XVII, que reuniu o melhor do pensamento gaulês de sua época. Note-se: a academia de Richelieu acolheu literatos, mas também cientistas e filósofos. No século XX, teve como membro ilustre o explorador submarino Jacques Cousteau. Acho bom que assim seja. Temos de entender "letras" em sentido lato, e assim faz a Academia Brasileira, que tem em seus quadros personalidades como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. É certo que Machado de Assis, ao criar a "nossa", acrescentou "de Letras" e isso foi, até bem pouco, uma fonte de desentendimentos e de acusações à ABL. Mas isso, penso, está superado.

Não preciso dizer que a ideia das academias me agrada.

Quando vejo que a congênere de Passo Fundo atinge a idade de 75 anos, isso apenas comprova minha argumentação acima. Passo Fundo, por todas as razões, vive intensamente a cultura. Esta é uma cidade de referência quando se pensa em literatura, em pensamento.

Saúdo com a maior alegria esta obra que vem dar conta de uma trajetória plena de sucessos. E como diziam os sábios de Roma, "ad multos annos"!

Academia Passo-Fundense de Letras:
Sete décadas e meia de trabalho em prol da cultura e da educação

Luciano Azevedo
Prefeito de Passo Fundo

Há 75 anos em atividade em Passo Fundo, a Academia Passo-Fundense de Letras carrega em sua biografia o engajamento de líderes que lutaram pela promoção da cultura e da educação de nossos conterrâneos. Muitos deles contribuíram para a construção da história deste município e buscaram, no desejo de superar suas próprias limitações, um lugar melhor para se viver.

A diversidade de ideias, profissões, crenças, posições políticas e pontos de vista de como devem ser as ações da Academia criam um riquíssimo ambiente para debate, composto por imortais que querem construir espaços de existência, livres das imposições criadas pela cultura de massas. São pessoas que buscam mostrar a riqueza das artes e os prazeres da leitura. Além de serem apaixonados pelo que fazem, criam e disseminam obras de existência incalculável e extremamente produtivas.

Líderes políticos, culturais, cientistas, professores e escritores fizeram parte da APL. Por isso, além do objetivo primeiro da APL em celebrar as letras, há participação em muitas discussões de temas relevantes para o desenvolvimento de nossa cidade. Ações da Academia são responsáveis pela cidade que vivemos hoje, incluindo a criação da biblioteca municipal, a fundação do CTG Lalau Miranda, o primeiro grupo de trabalho para a estruturação da Roselândia e as discussões que culminaram na criação da Universidade de Passo Fundo.

Através de várias iniciativas, ao longo do tempo, a APL ainda vem incentivando a formação de novos escritores em Passo Fundo. Também merece destaque a realização de Concursos Literários, estimulando estudantes a escrever, e a Semana das Letras.

Atualmente, a APLetras é presidida pelo Dr. Osvandré Lech. Graças a este e a outros líderes, a Academia Passo-Fundense de Letras chega ao seu jubileu de diamante. Fato que é registrado apenas por instituições éticas, ousadas, sólidas e ativas, características presentes na APL.

Que muitos outros anos venham à luz dos atos de nossos imortais!

Nem só de escrita e intelectualidade...

Diógenes Basegio

Nem só de escrita e intelectualidade mantêm-se os livros e mantemo-nos nós, escritores. Uma obra não se basta por si só. Carecemos de leitura, dependemos de leitores. Aí sim cumpre-se a missão no seu todo. A Academia Passo-Fundense de Letras, desde seus primórdios, tem cumprido sua missão. Tenho imenso orgulho em integrar este renomado grupo desde o ano de 2010. Sou testemunha da dedicação e iniciativa dos confrades, afinal a Academia não possui orçamento público, fator que em hipótese alguma intimida ou limita seus integrantes.

Passados 75 anos, o nosso caminhar foi crescendo e hoje a APLetras é considerada um exemplo de Academia a ser seguido. Muitos líderes se fizeram acadêmicos e vice-versa, compartilhando ideias transformadoras do seu entorno cultural, que por sorte extenderam-se a âmbitos educacionais, inclusive para outras cidades, estado e país, tudo em íntima relação com a história do nosso município.

A Academia Passo-Fundense de Letras também, através de inúmeras ações, participou ativamente da vida educativa e cultural do município, contribuindo diretamente para o desenvolvimento da educação e cultura no estado do Rio Grande do Sul. Plena em energia e ações, no seu Jubileu de Diamante, a Academia atua intensamente, através dos seus escritores, na produção incessante de obras literárias, na busca pelo aumento do público leitor, na contribuição para a erradicação do analfabetismo, no apoio e fomento a políticas de incentivo ao hábito de leitura, no propósito de favorecer uma ainda melhor educação formal à nossa população.

Ao longo desses 75 anos, a Academia tem desempenhado importante compromisso social, afinal realiza-se na medida em que fazemos, nós todos, essa imensa obra que transcende papel e escrita. A nossa obra é agora realidade concreta para bibliotecas e leitores, disseminando a cultura, a educação e o conhecimento através do livro.

Sinto-me bastante honrado em fazer este prefácio, atendendo a um gentil convite que me foi feito por Osvandré Lech, presidente da APLetras. Nesse caminhar de muitas conquistas, está aqui mais uma vitória: a publicação desta obra que enreda e ilustra os 75 anos de existência desta instituição. Parabéns aos que contribuíram, de uma maneira ou de outra, para esta concretização. Cumpre agradecer aos confrades, indistintamente, pelo engajamento e o sucesso alcançado. Que todos sigam convictos no sonho de uma grande Academia, produzir, produzir e produzir!

Propósito maior: a cultura

Paulo Afonso Trevisan

A Academia Passo-Fundense de Letras comemora 75 anos, e este livro registra sua notável vitalidade. Está instalada num dos prédios do maior patrimônio arquitetônico da cidade. Luta pela preservação do conjunto e a consegue, pela sua respeitabilidade. Imunizou o complexo da descaracterização de que foram alvo tantos prédios ícones da cidade. Tomo a liberdade de dizer que conheço e admiro vários acadêmicos, assim como seus comprometimentos na busca e reconstituição da história da cidade.

Adoro o passado, sempre fui e serei um guardião de publicações, documentos, arquivos de fotos e até das coisas do cotidiano. Salvar o disponível, pesquisar, recompor, isto é uma missão, mas obviamente com os olhos atentos e vislumbrando o futuro, para que toda essa memória chegue às próximas gerações.

No caso das corridas de automóveis, esporte no qual Passo Fundo também sempre foi destaque, como muito bem sabem alguns acadêmicos, temos aqui o inigualável e único acervo de carros históricos e centro de documentação do país. Sim, aqui na nossa cidade. Tudo isso é história e agrega no plano cultural. Não foi por outra razão que nos anos de 1990, criamos a Associação Cultural Museu do Automobilismo Brasileiro, a mesma que já viabilizou mais de uma dezena de publicações relevantes de seu meio de inserção, em Passo Fundo e noutras cidades, e que agora também colabora modestamente para esta edição histórica, pois ela se coaduna com seu já citado propósito maior: a cultura.

A Academia, na sua magnitude, também é composta de profissionais extremamente ocupados com as tradições, com a história, com as letras. Muitos mostram seu desempenho em atitudes individuais (e até solitárias, poderíamos dizer). Todavia, convive-se com a dificuldade de apoios efetivos e necessita-se de muita determinação para trabalhar com resgates históricos, muitas vezes abrindo mão de conforto para atingir objetivos traçados.

Passo Fundo, por outro lado, tem sido pródiga e vem mostrando sua característica diferenciada, porque é um lugar de gente que pensa grande, que faz. As iniciativas com a dimensão de uma Jornada Nacional da Literatura e de entidades, como a Academia Passo-Fundense de Letras, são belos exemplos que têm o reconhecimento e orgulham Passo Fundo.

MAMÃE, EU QUERO SER ESCRITOR!

Paulo Coelho

Quando tinha quinze anos, disse para minha mãe:

— Descobri minha vocação. Quero ser um escritor.
— Meu filho — respondeu ela, com um ar triste — seu pai é um engenheiro. É um homem lógico, razoável, com uma visão precisa do mundo. Você sabe o que é ser um escritor?

— Alguém que escreve livros.

— Seu tio Haroldo, que é médico, também escreve livros, e já publicou alguns. Faça a faculdade de engenharia, e terá tempo para escrever em seus momentos livres.

— Não, mamãe. Eu quero ser apenas escritor. Não um engenheiro que escreve livros.
— Mas você já conheceu algum escritor? Alguma vez, você viu um escritor?

Nunca. Só em fotografias.

— Então como você quer ser um escritor, sem saber direito o que é isso?

Para poder responder à minha mãe, resolvi fazer uma pesquisa. Eis o que descobri o que era ser um escritor, no início da década de sessenta:

Um escritor sempre usa óculos, e não se penteia direito. Passa metade de seu tempo com raiva de tudo, e a outra metade deprimido. Vive em bares, discutindo com outros escritores de óculos e despenteados. Fala difícil. Tem sempre ideias fantásticas para o seu próximo romance, e detesta aquele que acabou de publicar.

Um escritor tem o dever e a obrigação de jamais ser compreendido por sua geração – ou nunca chegará a ser considerado um gênio, pois está convencido que nasceu numa época onde a mediocridade impera. Um escritor sempre faz várias revisões e alterações em cada frase que escreve. O vocabulário de um homem comum é composto de 3.000 palavras; um verdadeiro escritor jamais as utiliza, já que existem outras 189.000 no dicionário, e ele não é um homem comum.

Apenas outros escritores compreendem o que um escritor quer dizer. Mesmo assim ele detesta secretamente os outros escritores – já que estão disputando as mesmas vagas que a história da literatura deixa ao longo dos séculos. Então, o escritor e seus pares disputam o troféu do livro mais complicado: será considerado o melhor aquele que conseguiu ser o mais difícil.

Um escritor entende de temas cujos nomes são assustadores: semiótica, epistemologia, neoconcretismo. Quando deseja chocar alguém, diz coisas como "Einstein é burro" ou "Tolstoi é o palhaço da burguesia". Todos ficam escandalizados, mas passam a repetir para os outros que a teoria da relatividade está errada, e Tolstoi defendia os aristocratas russos.

Um escritor, para seduzir uma mulher, diz: "sou escritor", e escreve um poema num guardanapo: funciona sempre.

Por causa de sua vasta cultura, um escritor sempre consegue emprego como crítico literário. É neste momento que ele mostra sua generosidade, escrevendo sobre os livros de seus amigos. Metade da crítica é composta de citações de autores estrangeiros; a outra metade são as tais análises de frases, sempre empregando termos como "o corte epistemológico" ou "a visão integrada num eixo correspondente". Quem lê a crítica, comenta: "que sujeito culto". E não compra o livro, porque não vai saber como continuar a leitura, quando o corte epistemológico aparecer.

Um escritor, quando convidado a depor sobre o que está lendo naquele momento, sempre cita um livro que ninguém ouviu falar.

Só existe um livro que desperta a admiração unânime do escritor e seus pares: Ulisses, de James Joyce. O escritor nunca fala mal deste livro, mas, quando alguém lhe pergunta do que se trata, ele não consegue explicar direito, deixando dúvidas se realmente o leu. É um absurdo que Ulisses jamais seja reeditado, já que todos os escritores o citam como uma obra-prima; talvez seja a estupidez dos editores, deixando passar a oportunidade de ganhar muito dinheiro com um livro que todo mundo leu e gostou.

Munido de todas estas informações, voltei à minha mãe e expliquei exatamente o que era um escritor. Ela ficou um pouco surpresa.

— É mais fácil ser engenheiro — disse ela. — Além do mais, você não usa óculos.

Mas eu já estava despenteado, com meu pacote de Gauloises no bolso, uma peça de teatro debaixo do braço ("Limites da Resistência" que, para minha alegria, o crítico Yan Michalski definiu como "o espetáculo mais maluco que já vi"), estudando Hegel, e decidido a ler Ulisses de qualquer maneira. Até o dia que Raul Seixas apareceu, me retirou da busca da imortalidade, e me colocou de novo no caminho das pessoas comuns.

ACADEMIA É CONVÍVIO

Arnaldo Niskier

Quando me perguntam para que servem as Academias de Letras, o primeiro pensamento que me ocorre é sobre os objetivos de sua existência. Seguramente não é só para que nelas se sirva, uma vez por semana, o gostoso chá de que tanto se fala, às vezes até maldosamente. Não! A marca notável das Academias está sintetizada na palavra convívio. Não é incomum, nos discursos de posse, a referência ao fato de que "agora, estamos condenados a conviver para o resto da vida", o que implica a renúncia a personalismos ou ao exercício de atitudes de arrogância ou prepotência.

As Academias têm longa vida de prevalência da harmonia entre os seus membros, mesmo quando se esteja referindo às de menor porte, como há milhares em nosso país. E quantas mais houvesse, no mínimo uma em cada um dos 5,5 mil municípios brasileiros, melhor seria.

Entre nós generalizou-se a crença de que essas entidades, em geral sociedades civis sem fins lucrativos, vivem mobilizadas por duas ideias centrais: desenvolver o gosto pela literatura e zelar pela valorização da língua portuguesa, hoje falada no mundo por cerca de 240 milhões de pessoas. Com a adoção de uma só configuração escrita, como pretende o Acordo Ortográfico, estrategicamente daremos um salto no concerto internacional, pois logo poderemos reivindicar a oficialização da língua de Machado de Assis nos foros internacionais promovidos pela ONU.

Pesquisa da Datafolha mostra que a Academia Brasileira de Letras, nascida do sonho de jovens escritores, em 1897, tem uma posição ímpar na sociedade brasileira, como entidade cultural de grande expressão, aprovada por 84% dos cidadãos ouvidos.

Se a matriz tem esse prestígio, parece óbvio que as demais Academias também sejam alvo dessa admiração. Para melhor compreensão do fenômeno, convém voltar ao passado para uma digressão prazerosa. Das publicações da Academia Brasileira de Letras, especialmente por intermédio do Centro de Memória, é possível conhecer com propriedade como se originaram as Academias.

A "Academia" veio da escola de Platão, "situada perto da cidade, cercada de árvores, assim chamada por causa do semideus Academos", a quem o jardim pertencera.

Durante muito tempo, no Brasil, as academias foram não apenas sociedade de sábios e letrados, senão ainda as faculdades superiores, de Direito e de Medicina; até hoje, um acadêmico pode tanto ser um membro da Academia Nacional de Medicina, quanto um estudante da Faculdade de Direito.

As primeiras academias regulares – no sentido restrito de associação espiritual, sem finalidade docente, que vai sendo o mais comum – são contemporâneas do Brasil; de 1570 é a Academia do Palácio, em Paris, que passou a chamar-se Academia Francesa.

No fim do século 19, no Brasil, Afonso Celso Júnior, ainda no Império, e Medeiros e Albuquerque, já na República, manifestaram votos por uma Academia nacional, como a francesa. O êxito social e literário da Revista Brasileira, de José Veríssimo, deu coesão a um grupo de escritores e, assim, possibilidade à ideia.

Lúcio de Mendonça teve, então, a iniciativa de uma Academia Brasileira de Letras. Assim, foi fundada, independentemente, a ABL, hoje uma respeitadíssima organização cultural, que tem como objetivo maior o trato da língua portuguesa, como prova a edição do Vocabulário ortográfico, com 360 mil verbetes, servindo de base para a implantação do Acordo de Unificação Ortográfica entre os Povos Lusófonos.

Sumário

As academias de letras

Luiz Antonio de Assis Brasil / 7

Sete décadas e meia de trabalho em prol da cultura e da educação

Luciano Azevedo / 9

Nem só de escrita e intelectualidade...

Diógenes Basegio / 11

Propósito maior: a cultura

Paulo Trevisan / 13

Notas de felicitações à APLetras

Marco Maciel  / 19
José Sarney / 19
Tania Rösing / 19
Rangel C. Rodrigues / 20
José Roberto Luchetti / 20
Gilberto Tubino da Silva / 20
Murilo Melo Filho / 20
Antonio Carlos Secchin / 21
Paulo Coelho (MAMÃE, EU QUERO SER ESCRITOR!) / 21
Arnaldo Niskier (ACADEMIA É CONVÍVIO) / 23

Hino da APLetras / 25

Acrósticos à APLetras / 26

Ata de reunião / 27

Patronos da APLetras / 29

Patronos transitórios / 34

Acadêmicos através dos tempos / 35

Presidentes da APLetras / 40

Linha do tempo / 42

Ações recentes em prol da cultura / 58

Academia Passo-Fundense de Letras comemora 75 anos / 79

Academia Passo-Fundense de Letras, 75 anos incentivando a cultura / 81

Os 75 anos da nossa Academia de Letras / 83

Marília Mattos e a Academia de Letras / 85

Estatuto Social da APLetras / 87

Título I - Da Estrutura da Academia / 87
Título II - Da Organização Administrativa / 88
Título III - Dos Membros da Academia / 92
Título IV - Das Disposições Gerais e Transitórias / 94

Acadêmicos e patronos / 97

Agostinho Both  / 99

Augusto dos Anjos / 100

Alberto Antonio Rebonatto  / 103

Machado de Assis / 104

Alori Batista Castilhos  / 106

Paulo Corrêa Lopes / 108

Antonio Augusto Meirelles Duarte / 109

Assis Chateaubriand / 110

Carlos Alceu Machado / 113

Ruy Barbosa / 115

Carlos Antonio Madalosso / 117

Dom Cláudio Colling / 118

Craci Terezinha Ortiz Dinarte / 121

Paulo Setúbal  / 122

Daniel Viuniski / 123

Arthur Ferreira Filho / 124

Dilse Piccin Corteze / 126

Euclides da Cunha / 127

Diógenes Luis Basegio / 129

César Santos / 130

Elisabeth Souza Ferreira / 131

Monteiro Lobato / 132

Elmar Luiz Floss / 134

Erico Verissimo / 136

Francisco Mello Garcia / 139

Pindaro Annes / 141

Gilberto R. Cunha / 144

Herculano Annes / 145

Helena Rotta de Camargo / 147

Mario Quintana / 148

Hugo Roberto Kurtz Lisboa / 149

Josué Guimarães / 150

Irineu Gehlen / 152

Olavo Bilac / 154

Jabs Paim Bandeira / 156

Manoelito de Ornellas / 159

José Ernani de Almeida / 161

Caldas Júnior / 162

Júlio Perez / 164

Clóvis Beviláqua / 166

Luiz Juarez Nogueira de Azevedo / 167

Múcio de Castro / 169

Marco Antonio Damian / 170

Alcides Maya / 171

Marilise Brockstedt Lech / 173

Delma Rosendo Gehm / 175

Mauro José Gaglietti / 177

Antonino Xavier / 179

Marisa Potiens Zilio / 181

Gabriel Bastos / 183

Odilon Garcez Ayres / 184

Tenebro dos Santos Moura / 187

Osvandré Lech / 188

Nicolau de Araújo Vergueiro / 190

Paulo Domingos da Silva Monteiro / 192

Gomercindo dos Reis / 193

Pedro Ari Veríssimo da Fonseca / 195

Prestes Guimarães / 196

Ricardo José Stolfo / 198

Simões Lopes Neto / 199

Rogério Moraes Sikora / 201

João Maria Belém / 202

Romeu Gehlen / 203

Castro Alves / 205

Santina Rodrigues Dal Paz / 207

Túlio Fontoura / 208

Santo Claudino Verzeleti / 210

Anna Luísa Ferrão Teixeira / 211

Selma Gandini Costamilan / 212

Aureliano Figueiredo / 214

Sueli Gehlen Frosi / 216

Ernani Fornari / 218

Welci Nascimento  / 221

Casimiro de Abreu / 221

Acadêmico emérito

Getulio Vargas Zauza / 223

Outros patronos

Miguel Eramy Guedes / 225

Oswaldo Cruz / 226

Darcy Azambuja / 227

A APLetras através dos tempos / 229

Registros que documentam uma história importante / 231

O prédio da Academia Passo-Fundense de Letras / 244

Símbolos da APLetras / 250

Posses de novos acadêmicos da APLetras / 253

Encontros de Academias de Letras / 261

Escritores passo-fundenses / 266

Lançamentos de livros na APLetras / 268

APLetras na comunidade / 272

Concursos literários na APLetras / 281

Ações sociais promovidas pela APLetras / 283

Música na APLetras / 284

Mais movimento na APLetras... / 290

Homenagens da APLetras / 296

Publicações / 299

Revistas Água da Fonte  / 300

Momentos... / 303

Curiosidades sobre a APLetras / 312

 
 

 

   
   
      


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