Apresentação
Nadir Antonio Pichler,
(Org.)
A filosofia prática é um ramo da filosofia que procura estabelecer pressupostos em forma de diretrizes ou princípios norteadores para orientar a ação humana na sociedade. Diferente de outras áreas do conhecimento, como as ciências exatas, as agrárias, as biológicas entre outras, a filosofia prática, área de conhecimento das ciências humanas, tem como objetivo específico atuar no mundo contingente, isto é, no mundo dos valores. Esses são mutáveis, incessantemente reconstruídos conforme o contexto filosófico e cultural da época.
Assim, os valores éticos, religiosos, sociológicos, pedagógicos, jurídicos entre outros não são absolutos ou imutáveis, mas oriundos das convenções humanas, dos pactos instituídos pela escolha e deliberação, totalmente dependentes da vontade humana.
Dessa forma, o ser do homem, o mundo da vida, da cultura, dos valores, diferentemente do ser dos animais, é essencialmente aberto, inconcluso, inacabado, que precisa ser moldado, educado, correspondendo à área de atuação das ciências humanas, filosofia, história, pedagogia, direito, teologia etc. Essa tese fundamental foi retomada no século passado pela antropologia comportamentalista, que defendia que o comportamento do homem em sociedade não era instintivamente predeterminado. Segundo essa corrente de pensamento, é próprio do próprio homem que engendra as orientações básicas de seus impulsos e desejos e, ainda, que o seu ser é conquistado no mundo de suas experiências.
Nesse sentido, este livro traz uma série de artigos que discutem essa problemática humana, sob a organização do professor de Filosofia da Universidade de Passo Fundo, Nadir Pichler, também autor do quinto capítulo deste livro. Os demais autores são formandos do VIII nível do curso de Filosofia da mesma universidade. Esses artigos provêm de sínteses, partes de capítulos de monografias e de textos científicos. Esta obra não pretende exaurir a discussão das temáticas na área da filosofia prática, quer apenas provocar mais estudos nesse ramo do saber.
Inicialmente, referente à filosofia antiga, especificamente à de Aristóteles, no primeiro capítulo, intitulado O finalismo em Aristóteles: a felicidade como fim último, Sidenei J. da Rosa discute o conceito de finalismo na ciência política ou filosofia prática de Aristóteles. Analisa como esse pensador concebe, desenvolve e justifica tal conceito, apresentando-o como o bem supremo do homem, ou seja, a felicidade, o fim último das ações humanas.
No segundo capítulo, Raquel Maria Sasso, em A felicidade na ética de Aristóteles, analisa e descreve algumas idéias centrais sobre a felicidade em Aristóteles, baseada na obra Ética a Nicômacos. Para isso, estruturou o texto em três momentos, primeiramente, apresentando uma visão geral da problemática da ética aristotélica; depois, analisando o conceito de felicidade na ética aristotélica como bem supremo e, por fim, apresenta a questão da eudaimonia, isto é, a felicidade como elemento central da ética aristotélica.
No capítulo A concepção aristotélica de ação, Cláudia Riva, também voltada para a ética, descreve alguns aspectos centrais sobre a concepção aristotélica de ação. Em primeiro lugar, esboça o propósito da ação humana visando um bem, isto é, uma finalidade nas ações praticadas. Posteriormente, aborda os diferentes tipos de atividades e ciências e os diferentes tipos de vida, já que Aristóteles tematiza a ética como filosofia prática, diferenciando-a de outros saberes. E, ainda, aborda as especificidades da ação humana.
Neimar Bedin, a partir da obra Política de Aristóteles, discute em seu capítulo O cidadão e a busca da felicidade em Aristóteles, a problemática da questão social aristotélica atrelada à busca da felicidade pelos cidadãos na atuação política na pólis. Inicialmente, identifica a classe social que melhor se adequaria para que uma cidade pudesse ser bem estruturada. Na seqüência, analisa as qualidades do cidadão ideal pensado por Aristóteles, suas funções e características perante a cidade. Por fim, trata da cidade ideal ou pólis, suas características, de que tipo de cidadãos é ou deveria ser composta, além da finalidade que ela possui para com os mesmos.
Ainda, sobre Aristóteles, Nadir Antonio Pichler, no capítulo A relação entre caráter e discurso na Retórica de Aristóteles, analisa, primeiro, a necessidade de o orador identificar o perfil psicológico ou a alma humana dos ouvintes, para que o conteúdo do discurso tenha mais repercussão e eficácia, conhecendo as disposições do caráter das diferentes faixas etárias: a juventude, a idade adulta e a velhice. Depois, sintetiza, alguns preceitos aristotélicos sobre o caráter dos homens conforme os bens da fortuna ou riqueza da nobreza, dos ricos e dos homens do poder. E, em terceiro, discute os três gêneros ou discursos da retórica: o deliberativo, o judiciário e o celebrativo, onde os conhecimentos técnicos do orador, concernentes à alma dos ouvintes, são atualizados perante os diferentes auditórios.
No contexto da modernidade, Andreza Ossani descreve algumas idéias sobre O estado de natureza no Leviatã de Hobbes. Para Hobbes, os homens estão inseridos, desde o nascimento, no estado de natureza, apresentando comportamentos selvagens e sem limites, guiados somente por seus desejos e paixões. Com o pacto social, os homens abdicam de sua liberdade ao soberano, por meio da instituição do estado civil. A autora mostra pontos importantes de compreensão desses dois estados fundamentais para que se entenda melhor o pensamento de Hobbes e, assim, evitar a “guerra de todos contra todos”.
Em Boa vontade e dever na ética kantiana, Gilvane Kern descreve elementos básicos sobre a ética, pautado na obra Fundamentação da metafísica dos costumes. Investiga os conceitos de boa vontade e de dever e a sua importância dentro do sistema ético kantiano, onde a vontade do ser racional-sensível, o homem, necessita do dever.
Daniela Magarinus Barella, em O mundo idealizado por Kant, apresenta as proposições sobre a possibilidade de constituir um mundo fundado em valores como a paz. Na obra À paz perpétua, Kant mostra que é contraditório pensar um modelo de paz que esteja dirigido ou preparado para enfrentar uma guerra futura. Um projeto de paz não se submete a um pensamento passageiro de apenas um período, mas deve estar enraizado no próprio modelo de paz que se sustente e que permaneça estável por ele mesmo.
E, por último, na conjuntura contemporânea, Venelci Santini, no capítulo Origens e características do pensamento de Matthew Lipman: a questão da educação, problematiza a situação da educação, suas dificuldades na perspectiva deste autor, questionando o sentido de se aplicar soluções remediadoras, em vez de modificar a essência. Segundo a autora, a filosofia tem muito a contribuir nessa direção através do desenvolvimento das habilidades de pensamento.
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